A indumentária romântica nas obras de Jean Auguste Dominique Ingres
É interessante pensar em como o contexto social que se vive,
influencia na indumentária e nas artes. No período romântico, posterior ao
neoclássico, defendia-se a liberdade de emoções, já que anteriormente o
racionalismo comandava. A indumentária perdeu a cintura império – logo abaixo
dos seios – e as saias retas e sem volume, enquanto que os artistas ganharam a
chance de expor em suas obras, os sentimentos guardados, ou melhor: contidos.
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Comtesse Walter, 1881. Cintura Império. Versailles, Museum. |
O
importante para nós, é que estas perdas e ganhos foram registrados ao longo do
tempo, permitindo-nos estudar e compreender os fatos através das pinturas e
obras artísticas feitas na época.
Na história não é possível afirmar datas específicas que
marcam o fim e o início de um período, assim, mesmo que estes tenham suas
características predominantes, há de ter algum resquício de outros estilos.
Jean Auguste Dominique Ingres inicialmente era definido como neoclássico, por
suas linhas e contornos marcantes e consequência do tempo em que entrou no
estúdio de David. Pintava acontecimentos e personagens da história como Napoleão,
havia realismo e harmonia de cores e aqui foi denominado como “exótico e romântico”.
Em seguida, Ingres interessou-se pela arte antiga e pinturas da Idade Média e
Renascimento, que somados a sua condição de artista romântico que pinta o que
deseja, resultou em um perído de desinteresse por parte da sociedade e
dificuldades financeiras na Itália por mais ou menos quatorze anos. Sua
carreira teve altos e baixos, momentos bons e ruins, até que uma obra
encomendada e exibida em 1824, no Salon, recebeu
críticas positivas, considerado como salvador da tradição clássica. Outros
temas pintados pelo artista eram o nú feminino e retratos. É bem verdade que a
figura feminina era a sua preferência, e graças a essa quantidade de referências,
temos uma fonte onde podemos nos situar quanto à sociedade, os costumes e a
indumentária.
O ideal de beleza deste período se voltava para o luxo da
corte, onde damas e cavaleiros eram respeitados e valorizados. Para as
mulheres, resgatou-se o sonho antigo de se aproximar de deusas e rainhas dos
contos de fadas, parecerem frágeis e delicadas, quase que decorativas. Para
isto, a cintura desceu alguns centímetros e era modelada pelos corsets pontudos e apertada a fim de
parecerem mais finas. Mangas volumosas com sobreposição de tecidos e decotes
que iam de um ombro ao outro, deixando-os à mostra tendo em vista a valorização
do colo e a aparência de ombros largos, porém aumentavam as chances para
doenças, por exemplo a tuberculose, por conta do frio em ocasiões noturnas.
Como de verdadeiras princesas, as saias ganhavam volume com as várias anáguas
colocadas por baixo, tornando qualquer atividade uma difícil tarefa, pois os
pesos dos vestidos as cansavam rapidamente. A decoração era indispensável,
usavam-se laços, babados e os motivos (estampas) eram geralmente florais
delicados ou listrados, com cores claras e por vezes vibrantes. Para os dias
frios, capas, xales e echarpes de renda, os sapatos eram sem salto alto e
tinham design de bailarina. O Retrato de
Madame Inês Moitessier (fig. 1) de
Ingres comentada por Janson em A nova
história da arte, demonstra com clareza as obrservações feitas acima neste
texto e em mais pesquisas históricas de indumentária:
[...] transformou a mulher de um rico banqueiro na imagem de perfeição clássica ou de uma deusa na Terra. O pintor deu-lhe uma pele branca e cremosa, belíssimos ombros, braços e mãos curvelíneos e um rosto à Rafael.Além disso, enriqueceu-a com um opulento vestido com um padrão de rosas, com jóias e um leque em penas de pavão, colocando-a perante um espelho emoldurado a ouro. O ar geral de perfeição também é dado pela superfície imaculadamente pintada (livre de marcas de pincel), a precisão do desenho e a mistura harmoniosa de uma composição complexa com a magnificência do colorido.
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Figura 1: Jean August Dominique Ingres. Retrato de Madame Moitessier. 1856. Óleo sobre tela |
Reforça-se então o ideal de perfeição, ainda que exageradamente
criado pelo pintor, a fim de satisfazer o desejo da retratada. Pode-se observar
em Retrato da Princesa Albert de Broglie (fig. 2) outra característica do romantismo: cabelos longos repartidos ao
meio e presos na parte traseira da cabeça, em penteados delicados e
ornamentados com plumas, pedras, babados, laços e por vezes faziam uso de
chapeus tipo boneca amarrados abaixo do queixo com fitas de cetim. Outra referência
é a pintura o Retrato da baronesa de Rothschild
(fig. 3), esta segura um leque e ostenta com cordões, braceletes, broche e
muitos laçarotes em seu vestido armado, pois os acessórios eram indispensáveis
para toda dama que se prezasse.
Nesta perspectiva,
se faz notável que o grau de importância e status
do indivíduo era medido a partir não só de sua aparência física, mas de sua
vestimenta e ornamentos. É fato que as obras de Ingres – e outros artistas – apresentam
uma relação estreita entre artes e indumentária, e são essenciais e
indispensáveis para a pesquisa das áreas.
Figura 3: Jean Auguste Dominique Ingres. Retrato da baronesa de Rothschild. 1848. Óleo sobre tela |
Bibliografia:
JANSON, H. W. A nova história da arte de Janson. A tradição Ocidental. 9a. Edição. Lisboa:
Fundação Calouste Gulbekian, 2010.
História da Moda. Disponível em <http://modahistorica.blogspot.com.br/2013/05/seculo-xix-moda-na-era-romantica.html>
Acesso: 21 de outubro de 2016
História da Moda. Disponível em <http://www2.anhembi.br/html/ead01/historia_moda/aula05/p02.htm>
Acesso: 21 de outubro de 2016
Informações adicionais:
Este texto é um ensaio totalmente autoral com referências bibliográficas citadas acima, alcançou nota máxima na disciplina "Teoria e História da Arte IV"
Professor: Arthur Vale
Aluna: Karolina Cabral Kosa
Belas Artes - Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro
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