ALÉM DE COCARES E OCAS



Este trabalho mostra a cultura, tradições e a singularidade da etnia indígena Pataxó, através das obras de Arissana, que com seu trabalho busca difundir aspectos do índio brasileiro.
Patxohã - Língua de Guerreiro” (Bomfim, 2012) - definição da língua Pataxó, é ensinada para crianças nas escolas da comunidade a fim de mantê-la viva. Sabendo-se que a língua é um meio de comunicação, bem como as imagens, símbolos e gestos corporais, aqui estão reunidas obras da artista para conhecimento, além do senso comum, da população. Manter a cultura entre os membros da comunidade é essencial para garantir a memória e a história; por outro lado, apresentar tal cultura para não membros desta comunidade é essencial para a valorização e conservação desta. Despertar o interesse pelo povo Pataxó é o motivo principal de Arissana, mostrando seu povo além dos cocares e ocas – imaginário sobre o indígena brasileiro.
ARISSANA PATAXÓ

A artista nasceu no ano de 1983, em Porto Seguro – Bahia, e pertence a etnia Pataxó. O despertar para a difusão da cultura de seu povo se deu quando ainda lecionava na Escola Indígena Pataxó da Aldeia Coroa Vermelha, situada no extremo Sul da Bahia, onde morou até ingressar na faculdade. No ano de 2005 escolheu o curso de Artes Plásticas da Escola de Belas Artes na Universidade Federal da Bahia, concluindo em 2009. Em sua jornada acadêmica, produziu material didático junto ao povo Pataxó, como atividade de extensão de arte-educação. Arissana Brás adotou o nome artístico “Arissana Pataxó” como outra forma de homenagem à sua comunidade indígena.
Em um de seus discursos, diz não ser a única artista da aldeia e por isso não é vista como alguém diferente:
“Para o homem branco eu sou artista por que faço igual a eles, nas obras uso técnicas contemporâneas do não-índio.”
Seu trabalho artístico (pinturas e desenhos) não é direcionado para a aldeia, tendo em vista seu trabalho como arte-educadora, por isso, suas obras são uma ponte entre o índio brasileiro e os demais.
“A ideia é que as pessoas passem a conhecer, e ainda que as obras não consigam transmitir, desperte curiosidade.”
Arissana participou de diversas exposições, sendo sua primeira exposição individual em 2007, no Museu de Arqueologia e Etnologia da UFBA em Salvador – Bahia, com tema “Sob o olhar Pataxó”.
Seu trabalho a colocou em segundo lugar no PIPA ONLINE 2016, sendo ela a única mulher indígena a concorrer ao prêmio.



“Mikay”, 2009, escultura de cerâmica, 60cm.

Mikay – significa “pedra que corta”. A escultura de cerâmica em forma de facão, um utensílio de caça presente na rotina do índio e representa os primeiros contatos entre os povos indígenas e ocidentais, apresenta a frase “O que é ser índio pra você?”, como forma de provocação, levando o expectador a pensar e refletir a respeito de seus conceitos sobre o índio. É interessante pensar que para esta obra a artista poderia apenas ter utilizado um objeto real e apenas apropriar-se dele, no entanto, em vez de escolher esta opção, sua decisão foi fazê-la por completo.


Sem título, 2009, acrílica sobre tela, 80 x 80 cm
Duas crianças Pataxós, representadas com um colorido que remete a alegria de ser criança e a alacridade de viver na aldeia. O movimento da configuração transporta o expectador para dentro da obra, instigando a imaginação e levantando questionamentos sobre o destino dos protagonistas que caminham sorridentes com cordas e colares pendurados em seu pescoço e braços. Talvez o artesanato tenha sido feito pelas suas mãos e o produto final será entregue aos outros membros do grupo. Tais adornos têm função de enfeite e compõem uma espécie de “figurino” especial para danças.


“Meninos Kayapó”, 2006, pastel óleo sobre papel, A3
Na missão de fazer conhecer os povos indígenas, Arissana vai além dos Pataxós, representando também os Kayapós – termo usado por grupos vizinhos, que significa “aqueles que se assemelham aos macacos”, provavelmente remetendo-se a um ritual onde os homens Kayapós se vestem com máscaras de macaco durante semanas, fazendo danças curtas. Apesar de denominados Kayapós, estes se reconhecem como Mebêngôkre, “os homens do buraco/lugar d'água”.
A obra feita com pastel óleo de cores vibrantes, apresenta dois meninos sentados em uma rede, demonstrando sua força e fazendo pose como se fosse uma fotografia, com áreas brancas, remetendo a incidência do flash.



“Dxahá patxitxá kuyuna”, 2011, acrílica sobre tela, 50 x 70 cm
O objetivo desta obra é representar a Bahia, e para Arissana “o povo indígena não pode ficar de fora”. Na elaboração da imagem, a artista plástica reuniu elementos característicos do Estado, como a mandioca, que sendo preparada por uma criança sentada no chão, mais tarde se torna farinha de mandioca – ingrediente utilizado na preparação de outros alimentos. No processo criativo, após a escolha dos elementos da composição, Arissana busca referências em fotografias para enfim chegar a conclusão de mais um de seus trabalhos.


“Memória Pataxó”, 2016, acrílica sobre tela, 200 x 120 cm
A cultura Pataxó é rica e possui uma grande variedade de ritos, festas, jogos e danças. Na obra “Memória Pataxó”, Arissana retrata o que sugere no título: as lembranças de seu povo; mulheres em fileira, algumas acompanhadas de crianças, parecem dançar para consumar um ritual. Em sua aldeia, às margens de um rio e ocas ao fundo, a obra educativa mostra também elementos que compõem a indumentária utilizada nesta ocasião em especial. Um detalhe nesta obra chama a atenção é a cruz de madeira, localizada no final da fileira, simbolizando a existência de uma religião.
  




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