Victor Meirelles: vida e principais obras
Vida:
Artista
com formação internacional e de grande importância para a história
do Brasil. Nasceu no ano de 1832, na antiga Nossa Senhora do
Desterro, e atual Florianópolis. Em 1845, ainda bem jovem e em
Florianópolis, sua jornada artística se inicia com estudos de
desenho com o argentino Marciano Moreno.
Depois
de dois anos, Victor se muda para o Rio de Janeiro e se matricula na
Academia Imperial de Belas Artes. Seu ingresso no curso de Pintura
Histórica em 1849 pode ter sido o fator que o levou a seguir o
caminho deste gênero. No ano de 1852, a AIBA lhe concede o prêmio
de viagem a Europa. No período de 1853 a 1861, começando em Roma,
Meirelles frequenta as aulas dos artistas Tommaso Minardi e Nicola
Consoni, expandindo seus conhecimentos. Muito estudioso e dedicado,
não deixa passar a oportunidade de estudar figura humana pelas obras
de Ticiano e Paolo Veronese, sendo este de maior interesse para
Victor.
Sua
condição de pensionato que já estava no fim fora estendida, e o
artista segue para Paris onde se matricula na École Superiéure des
Beaux-Arts (Escola Superior de Belas Artes), em continuidade de seus
estudos, agora com o artista Léon Cogniet e logo após, seu
discípulo Andrea Gastaldi. Ainda na cidade luz, pinta o quadro
“Primeira Missa no Brasil” que em 1861 é exposta no salão de
Paris. A saber, durante sua permanência no exterior, Meirelles
mantinha contato com Porto Alegre (pintor, escritor e diretor da AIBA
nos anos 1854 e 1857), por correspondências.
Enfim,
seu intercâmbio termina e após um ano de seu retorno ao Brasil, o
artista agora tem o cargo de professor de pintura histórica e
paisagem na Academia Imperial de Belas Artes, dando como retorno o
que adquiriu na mesma e na Europa.
Com
a queda do Brasil Império, a então AIBA sofre modificações,
passando a ser chamada Escola Nacional de Belas Artes – ENBA.
Dentre tais modificações está a renovação do ensino das artes e
dos professores. Victor Meirelles é reconhecido por retratar fatos
históricos brasileiros muito por causa das obras oficiais
encomendadas pela monarquia ao longo de sua carreira, o que acarretou
a exoneração do seu então cargo de professor na Academia.
Sem
seu emprego e na fase final de sua vida, Victor começa a fazer
panoramas da cidade do Rio de Janeiro e entristecido por causa do
esquecimento de suas obras históricas, sobrevive com exposições
públicas dos seus atuais trabalhos. Apesar de tudo, Meirelles tem
participação importante na formação de muitos artistas da época
devido o seu vasto conhecimento, experiência e talento.
Principais obras:
Em
ordem cronológica, começo com o quadro Primeira Missa no
Brasil (1860), que foi produzido em Paris no período
de dois anos, e exposto pela primeira vez no salão de Paris. Baseado
na carta de Pero Vaz de Caminha que descreve o acontecimento: um
altar com uma cruz, dois padres, a guarda portuguesa, o gentio
observando e admirando, e os nativos rodeando a celebração. Seu
sutil jogo de cores e esquema de configuração prendem o expectador,
deixando na memória a lembrança e imagem de como foi o
acontecimento.
Figura 1: Primeira Missa no Brasil - 1860
Moema
(1866) é uma das personagens do sexto canto de Caramuru:
Moema e outras índias se
atiram ao mar atrás do navio que leva o português por quem estão
apaixonadas, para a Europa. A índia, diferentemente das outras, não
retrocede e acaba por
“sorver-se n’água”. A pintura não é descrita como uma cena
do canto, mas sim uma sugestão do autor ao que poderia ter
acontecido com o corpo.
De
certo, não é a protagonista e mais retratada das personagens, mas
foi escolhida por Victor Meirelles em um momento em que o
tema indianista estava em voga, fazendo referência ao país. Como
característica, destaca-se também o
tradicional nú horizontal
renovado. Mesmo reproduzindo
a morte, suas curvas e traços delicados denotam vida, tendo em vista
o estilo europeu muito comum na época. Além
de todo o significado e história de Moema, Meirelles fez a junção
de dois segmentos
muito falados: a exposição do corpo feminino (o nú artístico) e
assuntos pátrios.
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Figura 2: Moema - 1866 |
A
obra Batalha dos Guararapes (1875)
retrata a derrota dos holandeses para os soldados defensores de
Portugal em 1649. Foi
produzida durante seis anos por causa das viagens de Victor a
Pernambuco, para coletar informações e fazer estudos do local a
fim de enriquecer seu trabalho com elementos fiéis e reais.
Em
1879 a
tela é exposta na Exposição Geral de Belas Artes
e gera polêmica por, além de estar localizada bem próxima à
Batalha
do Avahy,
de Pedro Américo, levanta dúvidas e questões quanto a sua
originalidade e possível plágio.
Sobre
tais questionamentos, Consuelo
Alcioni Borba Duarte Schlichta [1]
discorre:
“O fato de um artista extrair de maneira quase literal, conjuntos ou partes inteiras de suas obras a partir de outras, era para alguns visto como plágio, esquecendo-se que, nesse contexto, o que se buscava num quadro histórico não era a originalidade, mas a citação que levava, muitas vezes, a transposição de modelos ilustres.”
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Figura 3: Batalha dos Guararapes - 1875
|
BIBLIOGRAFIA:
VICTOR Meirelles. In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileiras. São
Paulo: Itaú Cultural, 2017. Disponível em:
<http://enciclopedia.itaucultural.org.br/pessoa8725/victor-meirelles>. Acesso em: 01 de
Jun. 2017. Verbete da Enciclopédia.
ISBN: 978-85-7979-060-7
Biografia de Victor Meirelles. In: Museu Victor Meirelles. Santa Catarina. Disponível
em: <http://museuvictormeirelles.museus.gov.br/victor-meirelles/biografia/>. Acesso em:
01 de junho de 2017.
Ascom/Ibram. Primeira missa no Brasil, de Victor Meirelles, chega a Brasília para
exposição. In: IBRAM portal do Instituto Brasileiro de Museus. Publicado em 29/06/2012.
Disponível em: <http://www.museus.gov.br/a-primeira-missa-no-brasil-de-victor-meirelles-
chega-a-brasilia-para-exposicao>. Acesso em: 01 de junho de 2017.
MIYOSHI, Alexander Gaiotto. MOEMA, A PINTURA DE UMA PERSONAGEM
LITERÁRIA. In: IV Encontro de História da Arte – IFCH / UNICAMP, 2008. Disponível
em:<http://www.unicamp.br/chaa/eha/atas/2008/MIYOSHI,%20Alexandre%20Gaiotto%20
[1]: SCHLICHTA, Consuelo Alcioni Borba Duarte. Arte e Contexto: Victor Meirelles e a Batalha dos Guararapes. In: Museu Victor Meirelles. Santa Catarina. Disponível em: <http://museuvictormeirelles.museus.gov.br/exposicoes/longa-duracao/arquivo/victor-meirelles-construcao/obra-em-perspectiva/arte-e-contexto-victor-meirelles-e-a-batalha-dos-guararapes/>. Acesso em: 01 de junho de 2017
. GUARILHA, Hugo. A questão artística de 1879: um episódio da crítica de arte do II Reinado. 19&20, Rio de Janeiro, v.I, n. 3, nov. 2006. Disponivel em: <http://www.dezenovevinte.net/criticas/questao_1879.htm>. Acesso em: 01 de junho de 2017.
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