Desembarque de D. Leopoldina no Brasil

Missão Artística Francesa – assim ficou conhecido o grupo de artistas franceses que, no início do século XIX, a convite da Corte Portuguesa após a retomada dos laços culturais com a França, foram trazidos para o Brasil. Dentre outras finalidades da missão, uma consistia em retratar momentos históricos importantes para então construir iconograficamente a história do país.
Nesta perspectiva, os temas das obras estavam ligados diretamente ao Império e suas conquistas, datas históricas, cenário das batalhas, fatos da corte, paisagens e retratos dos personagens protagonistas.
Dentre os artistas estrangeiros escolhidos para compor o grupo, estava Jean-Baptiste Debret – talvez um dos mais conhecidos popularmente. Não a toa, pois suas obras demonstram sua dedicação ao estudo das artes em Paris, frequentes visitas ao ateliê de Jacques-Louis David (1748-1825) – seu primo, e sua passagem pela Academia Real de Pintura e Escultura da França que somaram (dentre outros) para a formação de sua vasta bagagem artística. Na frança, Debret era requisitado para pintar temas históricos a respeito de Bonaparte (Figura 1), porém sua carreira se vê prejudicada com a queda do império de Napoleão. Além de sua carreira, sua vida pessoal também passa por um momento difícil: a morte de seu único filho.
Figura 1: JEAN-BAPTISTE DEBRET (1768-1848):Napoleão discursando às tropas bávaras e wurtemburgenses em Abensberg, 1810.Óleo sobre tela, 368 x 494 cm.Versailles, Musée National du Château et des Trianons



Sem ter o que o prendesse à França, Debret escolhe a Missão Artística no Brasil ao invés da proposta de trabalho na Rússia. Sua missão começa em 26 de março de 1816, quando chega no país, inicialmente produzindo pequenos desenhos, aquarelas, gravuras e pinturas a óleo sobre o cotidiano imperial para fins informativos.
Outro dos principais objetivos da Missão Artística, era a implementação do ensino artístico no Brasil, e Debret, a princípio, lecionava pintura em seu ateliê. Quando aberta a Academia Imperial de Belas Artes – Aiba (1826), Jean ensinava pintura histórica. Este forte viés do artista lhe rendeu obras que retratam momentos marcantes na história do Brasil império, tomando como exemplo Desembarque de D. Leopoldina no Brasil (Figura 2), obra em questão neste ensaio.

Figura 2:JEAN-BAPTISTE DEBRET (1768-1848): Desembarque de D. Leopoldina no Brasil, 1817 Rio de Janeiro, Museu Nacional de Belas Artes

Dona Leopoldina desembarcou no Rio de Janeiro em 05 de novembro de 1817, momento registrado por Debret em aquarela, gravura (no álbum Viagem Pitoresca e Histórica ao Brasil, editado e publicado entre 1834 e 1839 em Paris) e pintura. A obra revela, mais do que a chegada da arquiduquesa, o cenário político de união da casa de Bragança e de Habsburgo representada pelo casamento de D. Pedro e D. Leopoldina – a fim de firmar aliança política europeia.

Ao percorrer pela cena, vemos D. João VI, D. Carlota Joaquina, D. Pedro e sua esposa a caminho da carruagem real que os levariam ao Palácio de São Cristóvão. Na recepção também estavam presentes D. Miguel com suas damas de honra, altos dignatários da Corte e o clero. A cidade estava enfeitada especialmente para a ocasião: um arco de triunfo fora construído pelos oficiais da Marinha, e festas eram promovidas para integrar o povo aos eventos e assim aumentar a popularidade da corte, e para completar o cenário, o mosteiro de São Bento na paisagem ao fundo.

Para a ocasião, a Alteza real usa um vestido de seda branco, por cima um manto lilás com detalhes em ouro, bordados e pedrarias, e para completar seu penteado, um diadema de plumas. D. Pedro por sua vez, troca suas botas de cavalaria pelo traje de gala: farda, calções e sapatos oficiais. Os demais participantes homenageiam a corte portuguesa com vestimentas e ornatos nas cores azul e vermelho, fazendo com que nossos olhos, ao passearem pela pintura, se centrem na personagem principal que se destaca sendo a única a usar branco.
Contudo, sua importância na política e nos assuntos do império talvez não seja reconhecida como na obra citada. Carolina Josefa Leopoldina (Figura 3) traz da Áustria vasto conhecimento e cultura, utilizando-os em pesquisas da fauna, flora e minerais brasileiros, gostava de escrever principalmente cartas e narrar em seu diário os acontecimentos e fatos de sua vida, além de ter sido responsável pela contratação de cientistas e artistas – em referência a Missão Artística Francesa.
Ao lado de seu esposo, lutou pela aceitação do Brasil em Portugal, e substituiu D. Pedro quando este, em uma viagem a São Paulo, precisou se ausentar. Neste curto período, Leopoldina recebeu informações de Portugal e uma ação contra o Brasil, quando, sem esperar pelo esposo, mas com poder de decisão e junto com o Conselho de Estado, assina o decreto de Independência, assumindo papel importante neste processo.
Portanto, tais atitudes (entre outras) explicam sua popularidade entre a sociedade brasileira, reafirmando sua importância para o país desde o seu desembarque em 1817.
Figura 3: Leopoldina, Arquiduqueza d'Austria princeza real do Reino Unido du Portugal, Brazil e Algarves. Jean François Badoureau. Reprodução litográfica da gravura colorida original de cerca de 1819, editado pelo Palácio Nacional de Queluz por ocasião da visita a Portugal de S. E. o Presidente do Brasil, 4-8 de maio, 1986.


BIBLIOGRAFIA:
JEAN-BAPTISTE Debret. In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileiras. São Paulo: Itaú Cultural, 2017. Disponível em:. Acesso em: 08 de Jul. 2017. Verbete da Enciclopédia.
ISBN: 978-85-7979-060-7

A Missão Artística Francesa. In: MULTIRIO. Rio de Janeiro: Prefeitura da Cidade. Disponível em: < http://www.multirio.rj.gov.br/historia/modulo02/missao_artistica.html>. Acesso em 08 de Jul de 2017


COM A PALAVRA D. LEOPOLDINA, IMPERATRIZ DO BRASIL. Museu Histórico Nacional. Rio de Janeiro, 2014. Disponível em: < http://www.museuhistoriconacional.com.br/mh-2014-004.htm>. Acesso em: 08 de Julho de 2017.


DIAS, Elaine. Estudo para o desembarque da Imperatriz D. Leopoldina do Brasil. MARE. 16/02/2011. Disponível em: <http://mare.art.br/detalhe.asp?idobra=3089>. Acesso em 08 de Julho de 2017.


CHRISTO , Maraliz de Castro Vieira. A PINTURA DE HISTÓRIA NO BRASIL DO SÉCULO XIX: PANORAMA INTRODUTÓRIO. ARBOR Ciencia, Pensamiento y Cultura CLXXXV 740 noviembre-diciembre (2009) 1147-1168 ISSN: 0210-1963 doi: 10.3989/arbor.2009.740n1082. Disponível em: <http://www.dezenovevinte.net/ufrrj/abi_arquivos/Maraliz_pintura_historica.pdf>. Acesso em: 08 de julho de 2017.















Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

ALÉM DE COCARES E OCAS

Victor Meirelles: vida e principais obras